quinta-feira, 30 de julho de 2009

Velhos “remédios” para velhos problemas

MARCOS PIMENTEL BICALHO

ESPECIAL PARA A FOLHA
A DECISÃO da Prefeitura de São Paulo de proibir a circulação dos ônibus de fretamento na região do centro expandido trouxe à tona velhos problemas: no primeiro plano, a questão dos ônibus fretados e, como pano de fundo, a caótica situação do trânsito paulistano.
É necessário organizar a circulação dos ônibus fretados, que causam uma série de transtornos para todas as demais pessoas que precisam se movimentar por algumas das principais vias da cidade.
Regras para a circulação e a parada desses ônibus seriam bem-vindas, mesmo que venham a impor restrições aos seus usuários ou às empresas que exploram o serviço.
Porém, no seu mérito e graves problemas devem ser destacados.
Quanto ao primeiro aspecto, essa ação não pode ser vista de forma isolada de outras medidas que estão sendo tomadas, ou foram anunciadas, em relação à gestão da circulação na cidade de São Paulo.
Alguns exemplos são restrições já praticadas à circulação do transporte de carga, tentativa (fracassada) de suspensão do rodízio, pacotes de obras viárias e paralisação da construção dos corredores de ônibus -todas com um claro objetivo em comum: abrir espaço nas ruas para o transporte individual, mesmo que isso cause impactos negativos nos demais modos de transporte.
Fossem outros os objetivos, isto é, se a sociedade percebesse a proposta da prefeitura como parte de uma política mais ampla, direcionada para priorizar de fato o transporte coletivo, medidas similares a essas colocadas hoje para os fretados seriam toleradas e até aplaudidas.
Ao contrário, teme-se que seu resultado venha a ser o agravamento do problema da cidade, tirando usuários de um modo de transporte coletivo, ainda que privado.
Caberia agora uma segunda crítica, com relação à forma aparentemente precipitada como a restrição foi colocada em prática. Mesmo em um ambiente favorável, medidas complexas como essa demandam cuidadoso planejamento, ampla negociação com os segmentos envolvidos e flexibilidade (sem perder de vista os objetivos desejados) na implementação.
As imagens das enormes filas de pessoas e de ônibus nos poucos locais destinados à parada dos fretados eram previsíveis; o número de ônibus afetados (cerca de mil, segundo a mídia) deveria ser de conhecimento dos técnicos da prefeitura, que deveriam ter tomado providências com antecedência para criar condições mínimas para essas operações; os serviços de transporte coletivo envolvidos, principalmente os de alta capacidade (metrô e ferrovia), parecem não ter sido envolvidos no planejamento da proposta e, ao contrário, terem sido pegos de surpresa no seu primeiro dia de validade.
Condenável pelo mérito e descuidada na sua operacionalização inicial, a medida perde força, mesmo em seus possíveis pontos positivos.
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MARCOS PIMENTEL BICALHO é arquiteto, urbanista e superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos

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